Chega a ser engraçado, mas toda vez que alguém me pergunta como conquistei algumas coisas na minha vida, eu automaticamente respondo: “Acho que foi sorte.” E eu realmente acredito nisso; não é aquele tipo de frase para parecer modesta. Acredito que, ao longo dos anos, essa visão tem roubado de mim toda e qualquer chance de reconhecer que minhas conquistas são mérito meu. Apesar de não serem feitos grandiosos (eu, mais uma vez, tentando me colocar em um lugar inferior), nunca respondi a essa pergunta com algo como: “Foram muitas noites mal dormidas estudando” ou “Trabalhei muito para conquistar isso.”
Mas qual é o equilíbrio entre sorte e reconhecimento?
Ultimamente, o conceito de sorte tem me assombrado. Não sei explicar exatamente o motivo, mas pensar que tudo é sorte me faz sentir que algumas coisas podem desaparecer de um dia para o outro. Leia esta pequena e genérica definição de sorte:
"A sorte é vista como um evento favorável que ocorre de maneira inesperada e sem uma explicação lógica aparente."
Se isso faz você se sentir um pouco assustada, parabéns (ou meus pêsames), você faz parte do meu grupo.
Acredito que tudo isso venha de um problema mais complexo e profundo dentro de mim (que deixarei para discutir com minha terapeuta nas próximas sessões). Mas eu não quero que minha vida seja fruto do acaso. Quero ser reconhecida e, principalmente, me reconhecer. Afinal, apesar de tudo, até hoje foi assim: muito esforço, trabalho e luta.
E aqui entramos em um conceito muito importante: a síndrome da impostora.
Preciso contar uma pequena história que me fez enxergar tudo isso com outros olhos. Meu marido, recentemente, ganhou uma promoção no trabalho. Estávamos super felizes e comemorando. Eu já sabia que isso aconteceria em algum momento, pois via seu esforço dia após dia para alcançar esse cargo de liderança. Depois de muita conversa, um silêncio pairou no ar, até que ele finalmente falou:
"Será que foi sorte? Às vezes, nem eu acredito que consegui. Me sinto um impostor enganando a todos."
Naquele instante, um estalo enorme soou na minha cabeça. Como assim ele podia pensar daquela forma? Se alguém merecia tudo aquilo, era ele! Acho que fiz uma cara tão estranha que ele chegou a rir. Automaticamente, eu o repreendi e quase xinguei por pensar assim. E então ele, o maior aliado da minha terapeuta, me disse:
"Você faz exatamente isso quando algo bom acontece com você."
Duas coisas que vocês precisam saber sobre meu marido: primeiro, ele é o meu maior incentivador, sempre me ajudando a sair da minha zona de conforto e a evoluir; segundo, nos conhecemos há muitos e muitos anos.
E lá se foi outro golpe certeiro com apenas uma frase. Obviamente, fiquei chocada de uma maneira tão grande que não tive reação, pois nem eu percebia que fazia isso.
Ultimamente, tenho reclamado muito da minha vida e das mudanças que ela tem sofrido. Tenho me inferiorizado e não havia percebido isso. Mas, depois desse comentário, algo grande dentro de mim mudou. Toda vez que penso em dizer “acho que não sou capaz disso”, lembro que eu sou minha pior inimiga. E não é isso que quero para mim.
Sinto que sou uma ótima amiga para os outros—dou apoio, incentivo, encorajo—mas, quando se trata de mim mesma, não faço o mesmo. Comicamente triste, não acha?
A grande razão de me expor tanto, de compartilhar detalhes que me desagradam sobre minha personalidade, é uma só: tentar evoluir e, quem sabe, ajudar alguém a não se sentir assim também.
Não serei hipócrita. Ainda luto diariamente para reconhecer meu próprio valor. Quando falo em reconhecimento, não me refiro a ganhar um prêmio ou receber aplausos de uma sala cheia. Falo de um reconhecimento mais íntimo, interno, onde eu possa me abraçar e dizer: Conseguimos.
E, no fim das contas, não foi sorte. Foi trabalho, foi esforço, foi merecimento. E está na hora de eu finalmente aceitar isso.